As portas e janelas do nosso mundo – Uma reflexão sobre os limites

Abr 9, 2024Blog0 comments

Se te pedir para selecionares nas seguintes frases quais se aplicam ao teu dia-a-dia, verifica quantas colecionas:

– Sinto medo/culpa/vergonha quando tenho de dizer que não a algo que não quero.

– Questiono muitas vezes se tenho o direito a ter tempo para mim, ou se estou a ser egoísta.

– Tenho problemas em entender se a resposta emocional do outro é da minha responsabilidade : não sei o que é “meu” e o que é “do outro”.

Se te identificaste com alguma destas afirmações, como muitos de nós, possivelmente, os limites saudáveis não foram uma linguagem aprendida e praticada na tua vida.

Dizer não, para alguns de nós e em especial dentro da nossa cultura, soa a proferir uma espécie de feitiço maldito com efeito ricochete.

Acontece com frequência perguntar em terapia ” Para si é fácil dizer que não? Zangar-se?” – muitas vezes a resposta é ” Não. É muito difícil.”, seguida de uma respiração pesada. Outras vezes é um riso cúmplice. Independentemente da resposta, sei que para quem vive esta realidade, a falta de definição de limites traz consequências pesadas para si, para os que amam e para outras quantas coisas que fazem parte do seu dia-a-dia.

Aprendemos que uma frase começada ou terminada em “Não” é uma coisa feia de se dizer. Rude, fria, dura até. Ou mesmo sem “Não”, quando queremos oferecer uma alternativa que nos faz sentido a nós, continuamos a sentir que este comportamento não demonstra a nossa preocupação com o outro.

Criámos este significado acerca dos limites, quando eles nos trazem exatamente o contrário: limites saudáveis são bons para nós e para os outros. Permitem-nos abrir-nos com segurança e de forma mais completa. Permitem evitar a desregulação, e promover a confiança. Note-se a diferença: os “Muros”, marcados por silêncios crípticos e afastamentos fantasmagóricos, mantém os outros afastados –  os limites mostram-nos que janelas abrir para espreitar o mundo lá fora e ensinam aos outros onde é a porta para entrar no nosso mundo. Os limites surgem de um lugar de amor, não apenas pela outra pessoa, porque estamos a ensiná-la a como amar-nos, mas de amor próprio.

Quando criamos e preservamos limites, também criamos e preservamos o nosso valor pessoal. Passamos a mensagem a nós próprios e aos outros de que merecemos respeito e amor.

Muitos de nós fomos condicionados a desrespeitar os nossos limites ao longo do crescimento.

Em detalhes aparentemente inofensivos, desde o “dá lá um abraço ao senhor X, não sejas mal educada” à invasão dos nossos limites de privacidade, ao ler o nosso diário ou mexer nas nossas coisas… Os nossos cuidadores, de forma inconsciente, foram traçando as linhas quebradiças da nossa primeira noção de limites.

Também, em muitas situações, não vimos os adultos à nossa volta modelar limites saudáveis nas suas próprias relações. Assistimos a pessoas queridas a sacrificar o seu próprio bem estar consistentemente, vestindo este “pegar fogo a si mesmas para aquecer o outro” como uma capa de super-herói / heroína.

É possível aquecer o outro, sem retirar um pedaço de nós mesmos, até porque se o fizermos de forma repetida, em breve não sobram pedaços, e ficamos todas/os ao frio.

Parece fácil? Não é! Criar limites é muitas vezes altamente desconfortável. Mas é necessário para viver em plenitude connosco e com os outros.

Quando colocamos limites, não queremos controlar as outras pessoas. É importante entender que toda a gente tem o direito de se sentir como se sente acerca dos limites que se colocam. Tudo o que podemos controlar é a nossa resposta. E estes limites que definimos não são estáticos – são flexíveis. Podemos revê-los e reajustá-los.

E este é o caminho para o empoderamento. Para reavivar o nosso valor próprio. Para evitar ressentimentos que vêm de não honrarmos o nosso limite e para honrar também a nossa relação com o outro.

Desenvolver as tuas potencialidades no sentido de criar limites mais saudáveis significa definir a tua identidade. Ter sentido de segurança e controlo na tua vida, sem seres controlador/a. Viver uma vida com mais confiança e honestidade.

Toma o teu próprio pulso. Como te tens sentido ultimamente? O que tens sentido como inaceitável na tua vida? O que separa aquilo que tens disponível para oferecer e o teu desgaste? Que contornos sentes que precisas de redesenhar na tua vida?

Ana Fidalgo

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