O que é intuição
Muitos autores tentaram definir o que é a intuição (Bolte et al., 2003; Kahneman & Klein, 2009; Dane & Pratt, 2007, entre outros), apesar de se tratar de um tema amplo e, de certo modo, abstrato. De forma geral, pode-se concluir que cientificamente a intuição é entendida como um processo rápido, não deliberado e parcialmente inconsciente, que resulta em um julgamento ou decisão, muitas vezes acompanhado de sensações físicas ou afetivas (o famoso “gut feeling”).
No dia a dia, percebemos a sua presença quando surge aquela sensação estranha de que algo não está bem, mesmo sem conseguirmos explicar porquê, ou quando temos um “clique” súbito que nos dá a solução de um problema.
O que é a ansiedade
Já a ansiedade pode ser definida de algumas formas diferentes, mas de forma geral é um estado emocional que pressupõe uma reação a um medo ou preocupação futura. Esta sensação manifesta-se no corpo através de, por exemplo, batimento acelerado, tensão e ruminação. É comum as pessoas sentirem-se ansiosas perante situações do quotidiano que sejam interpretadas como uma ameaça à sua estabilidade, como por exemplo quando têm de tomar uma decisão importante no trabalho ou antes de realizarem um exame importante. No entanto, muitas vezes esta ansiedade pode-se “disfarçar” de intuição: o que pensamos que possa ser um “pressentimento” apurado quando estamos perante uma destas situações, muitas vezes pode ser a nossa ansiedade que, como é uma emoção forte, pode ser mal interpretada como intuição quando sentimos que precisamos de “evitar um perigo”. No entanto, a sensação é carregada de medo, repetição e pressão.
O que a ciência descobriu sobre o tema
Muitas vezes sentimos um aperto no peito ou uma sensação difícil de explicar e ficamos na dúvida: “Isto é a minha intuição ou é ansiedade?”. A ciência tem tentado responder a essa pergunta e já sabemos algumas pistas importantes.
Por exemplo, Bolte e colegas (2003) descobriram que o bom humor e estados emocionais positivos favorecem a intuição, enquanto a ansiedade e a tristeza tendem a distorcê-la. Ou seja, se estamos nervosos, é mais provável que aquele “pressentimento” seja apenas fruto da ansiedade. Daí a importância de primeiro observar como nos sentimos antes de confiar cegamente nessa voz interior.
De forma semelhante, Remmers et al. (2016) concluíram que a intuição tende a aparecer em momentos de calma. Se a sensação vem acompanhada de nó no estômago, suor ou coração acelerado, há maior probabilidade de ser ansiedade. Já a intuição genuína surge, muitas vezes, como uma clareza repentina ou uma sensação de tranquilidade, quase como se a resposta simplesmente “encaixasse”.
Um estudo mais recente de Wulff et al. (2024) mostrou que seguir a intuição está frequentemente associado a mais satisfação e bem-estar. Como perceber isso na prática? Basta reparar no que acontece depois da decisão: se, ao seguir a sua “voz interior”, sente clareza, leveza ou confiança, provavelmente era intuição. Mas se fica inquieto, em dúvida ou desconfortável, é sinal de que pode ter sido ansiedade a guiar o processo.
Algo semelhante foi demonstrado também pelo estudo The Emotional Nature of Intuitive Coherence Judgments (2017). Os investigadores observaram que emoções suaves (como calma, curiosidade ou até leve alegria) ajudam a intuição a funcionar bem. Já a ansiedade intensa funciona como “estática no radar”: em vez de captar sinais úteis, o corpo enche-se de alarmes que podem não ter nada a ver com a realidade do momento.
No fundo, a diferença está no impacto que sentimos: a intuição traz clareza e confiança, enquanto a ansiedade traz ruído, dúvida e agitação.
Como distinguir na prática: Intuição vs Ansiedade
| Critério | Intuição | Ansiedade |
| Estado corporal | Calma, clareza | Tensão, coração acelerado |
| Mensagem | Construtiva, orientada a ação | Catastrófica, focada em riscos |
| Sensação depois | Alívio, leveza, confiança | Inquietação, dúvida, arrependimento |
4 Estratégias para treinar a diferenciação
- Pausar e observar o estado físico antes de decidir.
- Perguntar: “Esta sensação aponta para uma solução ou para um medo?”
- Usar mindfulness/respiração para reduzir ansiedade antes de confiar no instinto.
- Fazer check-in emocional: se estou ansioso, é provável que não seja intuição.
A intuição é uma ferramenta valiosa no nosso dia a dia, mas para que realmente funcione a nosso favor, é essencial distingui-la da ansiedade. Esse é um processo que exige autorreflexão e paciência, pois só assim conseguimos chegar a respostas mais alinhadas com quem somos e com o que queremos do mundo à nossa volta.
Da próxima vez que sentir um “pressentimento”, experimente parar um momento e observar: ele vem com uma sensação de calma e clareza ou com um alarme ansioso? Essa simples diferença pode mudar a forma como entende a si próprio e as suas escolhas.
-Por Sofia Araújo
Marcar consulta com a Dra. Sofia Araújo


