Quem muda… A si mesmo ajuda?

Jan 21, 2025Blog, Mudança, Psicologia, Psicoterapia, Terapia0 comments

Mudança

Entre histórias, memórias, inquietações e pensamentos que se desconstroem no processo psicoterapêutico, no espaço seguro da relação ressignifica e transforma, surge, amiúde, a angústia que traduz a linha ténue que separa a o medo do desconhecido e a coragem para mudar. O que será, então, que nos limita e, muitas vezes, nos impede de avançar? Será que há uma estratégia universal que sirva a todos no momento de pensar na mudança?

Somos seres humanos que pensam e sentem a realidade de diferentes formas, mas que têm algo em comum: estamos em permanente (re)construção. Numa sociedade acelerada, “com necessidade de imediatismo”, que nos empurra a urgência do que se segue e nos permite, de forma muito limitada, demorarmo-nos no tempo presente para perspetivar o futuro, a mudança é sempre sentida com desconforto. Com medo. Com angústias que se reativam pelos gatilhos do que já foi, mas também pelo que não sabemos como será. Correrá bem? Será que é ali o lugar onde preciso de estar? Será que é depois desta mudança que vou encontrar a felicidade? E essa felicidade, será mesmo o destino final ou apenas o caminho?

Mudar exige, numa primeira instância, o reconhecimento claro de que algo não está bem: podemos apontar mudanças necessárias no outro, nas relações, nos empregos, nos sítios… e até, se o nosso nível de autoconsciência o permitir, reconhecê-lo também dentro de nós.

Quando o reconhecimento está feito e a necessidade de mudança é, não só pensada, mas integrada dentro de nós, surgem algumas questões transversais: e se não correr bem? E se, do outro lado do medo, não existir o que eu preciso e procuro? E se, no desconhecido, encontrar um lugar pior do que aquele onde estou?

É, nesta fase, que surge a necessidade de validação daqueles em quem confiamos para as grandes decisões. Procuramos nos outros os exemplos e as respostas para as nossas verdades (e será justo fazê-lo…?): “o que achas que devo fazer?”, “achas que, nesta nova oportunidade de emprego vou ter o reconhecimento que mereço?”, “e se mudar para esta casa, achas que não vou ter vizinhos problemáticos?”, “se terminar esta relação, será que algum dia vou encontrar alguém melhor? E… se ficar sozinho/a? Achas que é uma boa decisão?”. É importante ressalvar que quem diz que não se importa com o que os outros pensam está longe da verdade. Somos seres sociais, que vivem em relação, que se vinculam e precisam do outro. Nas decisões importantes não é diferente, e apesar de não ser bom “medirmo-nos com a régua do outro”, a opinião e validação dos nossos importa e é necessária.

E porque é que precisamos tanto da validação do outro quando tomamos decisões, quando pensamos em mudar? Porque, muitas vezes e de alguma forma, no caso de o desfecho não ser o que desejávamos, a verdade é que ter a intervenção do outro significa quase “dividir o mal pelas aldeias”. Por outras palavras, sempre que envolvemos os outros nas nossas decisões, o nosso ego protege-se na certeza de que a responsabilidade daquele desfecho não foi só nossa. E isso traz-nos um alívio, nem que seja apenas temporário, porque ao sentirmos que não estivemos sozinhos na decisão, também não estamos sozinhos na responsabilidade da consequência que surgiu. E pensamos nisso sobretudo quando as coisas correm mal, porque nos é mais difícil de assumir para nós que a consequência foi da nossa inteira responsabilidade; quem decidiu não fui só eu, fomos nós.

Fazemos isto de forma inconsciente e defensiva, sem percebermos uma das maiores verdades universais: não mudar também é uma decisão. Ficarmos no mesmo lugar que nos adoece, na mesma relação que não nos acrescenta, no mesmo emprego onde não somos vistos, na mesma casa onde, por algum motivo, não estamos felizes, também é responsabilidade nossa. A inação também é uma decisão que tem consequências; caso contrário, nem equacionaríamos a possibilidade de mudar. Mas, neste caso, a consequência já existe, é conhecida, e o conhecido é familiar, confortável no seu desconforto. O nosso cérebro gosta de previsibilidade, mesmo que o previsto não seja bom.

Desde os primórdios da humanidade que os seres que se adaptam e evoluem são aqueles que sobrevivem. A mudança é, então, imperativa quando queremos construir novos significados e encontrar novos caminhos: adaptação e evolução dependem, sobretudo, da nossa capacidade para olhar para dentro, reconhecer a nossa verdade, e tentar viver o máximo possível alinhados com o nosso propósito. Só assim podemos, em consciência, operar mudanças importantes nas nossas vidas e, sobretudo, viver a vida de acordo com o nosso verdadeiro significado.

 

– Por Liliana Marques

 

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